Juliana Karol de Oliveira Falcão¹
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
Arthur Rodrigues de Lima²
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
Auricélia Lopes Pereira
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
Orientadora
INTRODUÇÃO
A literatura é um dos diversos meios
utilizados pelas pessoas para expressarem seu viés artístico em todo o mundo.
No entanto, apesar da obra literária ser um objeto que emerge de uma invenção,
não significa que a mesma possua sua geografia não obstante de historicidade,
assim como também não significa que ela é livre de interrogações sobre sua
produção, pois, justamente por ser inventiva a mesma é composta por signos
intencionais, imprimindo em si uma estética que se estabelece a fim de passar
uma mensagem.
Portanto, o discurso da obra deve ser
questionado para que possamos compreender as teias que entrelaçam essa
construção discursiva. A priore deverá
ser pensada sobre de que lugar social parte a fala do autor, isto é, quais são
as pessoas, as ideologias, que ele defende, visto que, este lugar irá nos
ajudar a desvendar toda uma conjuntura de forças, de relações de saber e poder
que iram reprimir ou excitar o autor a falar de determinado recorte de discurso
(FOUCAULT, 2013). Sem se esquecer de direcionar também o olhar para o texto,
identificando quais são as questões a qual ele trata e de que maneira o autor
aborda suas inquietações literárias.
Trata-se,
portanto, de identificar histórico e morfologicamente as diferentes modalidades
da inscrição e da transmissão dos discursos e, assim, de reconhecer a
pluralidade das operações e dos autores implicados tanto na produção e
publicação de qualquer texto, como nos efeitos produzidos pelas formas
materiais dos discursos sobre a construção de seu sentido (Chartier, 1999,
197).
Preocupando-nos em perceber quem é o
público alvo que a obra pretende alcançar, ou seja, quais são seus receptores
(PESAVENTO, 2004). Ora, não podemos cair na ilusão de que as falas que nos
cercam são neutras de intenções, todavia, devemos entendê-las como conjuntos
gramaticais estratégicos que buscam passar uma mensagem para o leitor, ou até
podemos dizer que, de certa forma, querem fazer com que eles acreditem em uma
veracidade. Desse modo,
Essa noção remete ao lugar de onde
fala e em que se insere o autor, literato ou não, assim como outros escritores
que o cercam; lugar circunscrito e estruturado ao redor das posições que esses
produtores culturais ocupam na sociedade e no meio intelectual, no qual
estabelecem relações entre si e com outros campos que constituem a vida social;
lugar marcado pelos jogos de poder e vinculado com o campo político (BORGES,
2010, p. 97).
Tendo
como pressuposto as afirmativas que já foram abordadas é evidente que cada
palavra de um texto merece com louvor ser problematizada, questionada,
interrogada e “desvendada”. Sabemos que a literatura, por sua vez, é um campo
que trabalha lado a lado com a realidade, pois mesmo sendo uma criação da mente
humana, ela tem dois poderes que são o de reprimir ou de emergir uma dada
perspectiva em sua escrita, este último pode ocorrer de maneira sutil ou até
mesmo exacerbada.Desse modo, o livro O
Tempo envelhece Depressa do escritor italiano Antônio Tabucchi se
apresenta como uma obra literária com critérios para formar uma ponte entre a
história e a literatura. Possibilitando, assim, a fuga de um labirinto, porque
a literatura pode ser um dos caminhos que levará os alunos a sair das confusas
estradas nas quais estão perdidos. Logo, a partir do momento em que o docente
utiliza-se da literatura ele, também, estará fazendo uso de uma prática de
ensino transdisciplinar que seria, segundo Edgar Morin (2003), uma metodologia
bastante aplicável em uma sociedade contemporânea.
MÉTODO E OPERAÇÃO DA
ANÁLISE
Para identificar as contribuições da
literatura para o Ensino de História foi feita uma pesquisa essencialmente
teórica através de revisão bibliográfica fundamentada em autores que
contribuem, principalmente, no campo do discurso, literatura e representação.
Bem como a leitura e análise da obra em foco neste artigo, “O Tempo Envelhece
Depressa”. Tendo como objetivo identificar características relativas à
História, que possibilitem sua aplicabilidade nas metodologias de ensino dentro
da sala de aula na disciplina de História.
Também
partindo do princípio de identificar dentro de uma esfera interdisciplinar as
possíveis relações entre história e literatura observando que ambas possuem
objetivos comuns como a reflexão sobre o humano, sua vida, seus valores e seus
sentimentos e que tal colocação nos remete a uma discussão teórica, sobre como
formas distintas de conhecimento podem a partir de uma contextualização
contribuir para uma nova visão do ensino de História.
RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA
PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
O
professor que adere a literatura na prática docente do ensino de história
estará afirmando perante os seus alunos que não existe apenas o conhecimento
flutuante que não faz ligações, mas sim uma gama de conhecimentos que se
emaranham como em uma teia que podem e precisa ser trabalhados em conjuntos em
todas as oportunidades possíveis do cotidiano escolar.
É
sabido que apesar dos déficits de leitura que pairam no ar de praticamente
todas as salas de aulas dos sistemas de ensino público brasileiro, ainda
existem alunos que gostam de ler, portanto o professor deve criar pontes entre
algo que os alunos já gostam com algo que eles não possuem muita intimidade, as
narrações históricas. Os alunos que não possuem o hábito de leitura aos poucos
vão se adequando a esta nova prática de ensino, afinal, como aprender a ler
corretamente, se dentro da sala de aula (ou em casa) o aluno não possui a
postura de leitor. Por conseguinte, ao trabalhar com a literatura,
evidentemente, o discente irá ler mais resultando em uma maior desenvoltura de
sua fala e escrita, além de um enriquecimento intelectual e um aumento
significativo em seu vocabulário, proporcionando um indivíduo mais capacitado
para lidar com as situações do dia a dia e da sala de aula de modo geral e não
somente na disciplina de história.
Além
disso, a literatura irá provocar no aluno uma consciência mais crítica diante
do que lê, e até mesmo diante do que vê, pois a partir do momento em que ele
começar a realizar uma análise crítica literária, junto com o professor, ele
irá perceber que o dito sempre partirá de um lugar de interesse de discurso,
isto é, toda obra é filha do seu tempo e possui a intencionalidade do seu
autor. A literatura permite que o aluno possa conhecer mais intimamente
determinado temporalidade e espacialidade sem ter estado nela. Pois, através do
olhar do literato serão captadas inumeráveis características históricas, até
mesmo quando ele não possui a intensão de assim fazê-lo. Dessa forma, o
escritor traz nas entrelinhas de seu trabalho objetos que viram a ser tratados
como monumentos pelos alunos, visto que, serão questionados, investigados,
indiciados. Pois, como já dizia Lucien Febvre, todos os textos, mais todos os
textos e não só os documentos de arquivos em cujo favor se cria um privilégio.
Mas também um poema, um quadro, um drama: documentos para nós, testemunhas de
uma história viva e humana, saturados de pensamento e de ação em potência, logo
ferramentas para a escrita da História. (Pinsky apud Febvre, 2011).
Levando
em consideração este debate teórico à obra O
tempo envelhece depressa é de extrema importância para o Ensino de
História, pois ela tem todos os seus contos entrelaçados com a perspectiva
histórica, proporcionado uma discussão sobre o que significa temporalidade,
espacialidade e historicidade. Este é um livro que não possuí vilões nem
mocinhos, mas sim pessoas comuns com suas memórias ativas, saudades exprimidas
e meditações sobre o passado que horas está distante e que horas esta tão
perto. Assim, levando-o para a sala de aula onde as mentes dos alunos estão
sendo formadas, pode-se desenvolver também temas em que sejam abordadas noções
do sensível, do passado que vive em cada um de nós, pois como sabemos nos
vivemos daquilo que vive na nossa memória e o que vive em nossa memória é nossa
identidade. Por isso, nem um homem ou mulher pode ser despossuído de memória
sem, também, ser privado de identidade (HORTA, 2005). Então, por meio da obra o
professor ajudará o aluno a enxergar que todos nos somos parte da história,
graças às práticas do cotidiano, assim como os personagens que aparecem nos
livros didáticos.
CONCLUSÃO
Dessa
forma, a partir das discussões expostas no livro, os alunos irão refletir sobre
suas maneiras de inventarem seu cotidiano, tais como a forma que a vida deve
ser aproveitada, deixando de lado rancores, suplantando o menosprezo ao
diferente e sim sendo capazes de verem nessa possível diferença a união, troca
de experiências e conhecimentos, estabelecendo relações que fazem despertar uma
troca de sabedorias entre ambos, tornando o convívio de cada um algo mais
saudável, mudando assim as relações coletivas de maneira positiva através da
construção da visão de alteridade.
Ao
Buscar realizar uma análise sobre a obra aqui exposta e sua relação com a
história do tempo presente podemos perceber que os dilemas encontrados nas
crônicas do livro podem facilmente ser encontrados em meio à sociedade da qual
fazemos parte. É comum ouvimos diariamente questionamentos sobre tempo, memoria
e o passado que vive em cada um de nós. A nossa história é marcada por essa
melancolia que move os personagens do livro e que de forma objetiva move a vida
de todos nós.
A
história da vida humana é marcada por acontecimentos efêmeros como mostra o
livro, em que sentimentos, encontros, fatos, que duram pouco tempo é o que move
a vida da multidão que vive tudo de forma passageira e encontra suas
consequências em momentos finais e de perda, onde se deparam com
questionamentos e sentimentos. Essas são características que muitas vezes são
encontradas nas conversas das pessoas, que tem suas vidas marcadas pela
melancólica, sensação de solidão que move os seus dias, da mesma forma que
também move os personagens do livro de Tabucchi.
Levando
as narrativas desse livro para um campo contemporâneo podemos analisá-lo da
seguinte maneira. Muitas vezes encaramos o tempo como se ele fosse o deus do
infinito, ou até mesmo uma fonte de água cristalina que nunca cessa. Pensamos
que amanhã haverá tempo para fazer o que se deseja, para perdoar e para ser
feliz. Cometemos esse errôneo pensamento que chega a ser infame: pensar que o
amanhã irá acontecer. E acontece, na maioria das vezes, entretanto, mais uma
vez, não fazemos nada para mudar a nossa realidade e como um balde de água que
estar a aparar uma goteira, o tempo vai acabando, assim como também vai
diminuindo o espaço do recipiente, após o repousar de cada gota. Só existe uma
diferença podemos jogar a água do balde fora quando ele estiver cheio, todavia
não podemos voltar no tempo. E o que nos resta é juntar as sucatas das
memórias.
REFERÊNCIAS
BORGES, Valdeci Rezende. História e
Literatura: Algumas Considerações. Revista
de Teoria da Teoria da História, Ano 1, Número 3, Jun, 2010.
PINSKY, Carla Bassanezi e LUCA,
Regina de. (orgs.). Literatura
a fonte fecunda. O Historiador e suas fontes. -
1. ed. 1ª reimpressão.- São Paulo: Contexto, 2011. (p. 61-93).
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & história cultural.
Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
TABUCHI, Antonio. O tempo envelhece depressa; Tradução:
Nilson Moulin, São Paulo: Cosac Naify, 2010. 160p.
FOUCAULT, Michel. A
Ordem do Discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
Graduanda do Departamento de História da Universidade
Estadual da Paraíba. Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência PIBID/CAPES.
² Graduando do Departamento de
História da Universidade Estadual da Paraíba. Bolsista do Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência PIBID/CAPES.