Querida mãe,
Te escrevo essa carta para falar que
estou bem, estou seguro, não sei se ela vai chegar nas suas mãos, mas rezo para
que sim...
Soldados
nos obrigaram a viver em exílio, ruas frias, casas meio mortas, todos
assustados, não temos liberdade, ela nos foi tomada, a noite amigos somem sem
deixar vestígios e escuto ecoar pelas ruas um som que transborda arrepios. Mas
não se preocupe, eu estou bem... O pai me ensinou a cuidar da madeira, a
construir da madeira, a construir, remontar e moldar...
Falaram
que sou útil, que tenho um dom e enquanto trabalho, enquanto eu lhes for útil,
eu estarei seguro. O que de certa forma significa que fui reconhecido por
alguém de grande poder. Ele quer que eu construa algo importante, por isso como
forma de pagamento ele permitiu que eu escrevesse essa carta.
Não sei quando poderei ir para casa, só espero
ter para onde ir, espero que esteja bem. Sinto falta do cheiro das flores pela
manhã, do canto dos pássaros, sinto falta da luz e das estrelas do campo. Se
cuide minha querida mãe, um abraço de seu pequeno.
Alemanha
(15/01/1932).
Abgarrio
Bezerra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário