Ao contrário do que se pensa ou do que se pensou durante
muito tempo, a Idade Média – muitas vezes intitulada de Idade das Trevas ou de
período obscuro da sociedade, dentre outros termos preconceituosos – não representa
uma temporalidade marcada por ignorância, atraso ou estagnação devido a
interferência religiosa. Foi devido a isto que a expressão artística da época
fez-se sentir nos vários extratos da sociedade. Isto se deu de tal maneira que
através do estudo da arte da referida temporalidade é possível obter-se um
entendimento aprofundado do pensamento medieval.
Durante a
Idade Média, a Igreja detinha o poder econômico, político, jurídico e social,
além de exercer forte controle sobre a cultura. Nesse sentido, a igreja
realizou uma forte ligação entre a arte e o cristianismo e sua influência foi
refletida nas mais diversas manifestações artísticas, como no teatro, na
música, na arquitetura, bem como nas artes plásticas.
A arte
medieval era tanto a expressão das ideias da igreja, como também o veículo
dessa cultura religiosa. A mesma configura-se por carregar um caráter
didático-religioso, servindo para dramatizar a mensagem divina. Como os
documentos escritos eram praticamente inacessíveis, devido as dificuldades de
produção e a população, em grande número, era iletrada, a arte atingia um
público muito maior do que o público da literatura.
A imagem
onipotente tinha o papel de alimentar através dos olhos o pensamento rudimentar
da época. A arte era o meio da igreja se fazer entendida pelos cérebros
incultos, constituindo-se para estes como uma “pregação muda”. Nessa
perspectiva, a iconografia assume um papel fundamental no medievo, na qual a
ideia predomina sobre a forma.
As ideias da
igreja eram sintetizadas pelos artistas da época, os quais faziam uma suma do
pensamento religioso e possibilitavam a “leitura das imagens” pelo povo. Tais
obras, caracterizadas por uma beleza plástica, uniam a aparência externa do
indivíduo ao dinamismo humano – as imagens surpreendiam o ser em atitudes humanas,
naturais e intensas. As imagens eram tomadas pela paixão, pela dor,
engrandecidos pelo êxtase, inquietos pela alegria, deformados pela cólera,
torturados pela angústia e etc.
A arte em foco desdobra-se em dois seguimentos:
românico e gótico. O primeiro foi uma arte sacra da cristandade ocidental em
expansão, marcada pelo regionalismo. Porém, mesmo aproveitando-se de diversas
tradições artísticas, os elementos incorporados foram adaptados as novas
necessidades, o que configurou esse estilo artístico como original. Uma
característica relevante da escultura românica era o simbolismo – o tamanho,
bem como o aspecto de cada personagem esculpido estava associado ao papel desempenhado
pelo mesmo ou a importância deste no mundo religioso. Dessa forma,
compreende-se porque Cristo era revelado em tamanho maior que os apóstolos. Além
disso, merece destaque outras características da arte românica: as construções eram
fixas na terra, com paredes grossas e mantinham o horizontalismo. Arte tida
como heterogênea, pois conservou grande diversidade regional entre países –
França, Inglaterra, Espanha e Itália.
Paulatinamente
o estilo gótico foi se libertando do românico e revelando suas particularidades.
As paredes das construções ficaram mais finas e se verticalizaram – as torres
que apontavam para o alto, representam a autoridade maior do senhor maior
proximidade do céu. É uma arte mais homogênea que a retratada acima, tendo em
vista a maior diversidade da arquitetura e esculturas românicas. A arte gótica caracteriza-se ainda como uma arte urbana, pois
nasceu com as cidades. A catedral tornou-se o centro da cidade, simbolizando o
progresso desta, tendo em vista que as cidades tornaram-se os centros de atividade
espiritual, intelectual, bem como artística. Pode-se ressaltar ainda a
claridade dos recintos – existia a preocupação dos santuários serem claros,
onde as vidraças imensas tinham que deixar a luz do sol passar para iluminar e
axaltar as manifestações da arte religiosa.
Diante do
exposto, compreende-se que o estudo da arte medieval possibilita um
conhecimento aprofundado acerca da mentalidade dessa sociedade. Além disso, a
partir do descrito “derruba-se” preconceitos e “quebra-se” paradigmas
concernentes ao período, tido erroneamente como de ignorância devido a
interferência religiosa.
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