quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O sagrado e as artes na sociedade medieval

Ao contrário do que se pensa ou do que se pensou durante muito tempo, a Idade Média – muitas vezes intitulada de Idade das Trevas ou de período obscuro da sociedade, dentre outros termos preconceituosos – não representa uma temporalidade marcada por ignorância, atraso ou estagnação devido a interferência religiosa. Foi devido a isto que a expressão artística da época fez-se sentir nos vários extratos da sociedade. Isto se deu de tal maneira que através do estudo da arte da referida temporalidade é possível obter-se um entendimento aprofundado do pensamento medieval.
            Durante a Idade Média, a Igreja detinha o poder econômico, político, jurídico e social, além de exercer forte controle sobre a cultura. Nesse sentido, a igreja realizou uma forte ligação entre a arte e o cristianismo e sua influência foi refletida nas mais diversas manifestações artísticas, como no teatro, na música, na arquitetura, bem como nas artes plásticas.
            A arte medieval era tanto a expressão das ideias da igreja, como também o veículo dessa cultura religiosa. A mesma configura-se por carregar um caráter didático-religioso, servindo para dramatizar a mensagem divina. Como os documentos escritos eram praticamente inacessíveis, devido as dificuldades de produção e a população, em grande número, era iletrada, a arte atingia um público muito maior do que o público da literatura.
            A imagem onipotente tinha o papel de alimentar através dos olhos o pensamento rudimentar da época. A arte era o meio da igreja se fazer entendida pelos cérebros incultos, constituindo-se para estes como uma “pregação muda”. Nessa perspectiva, a iconografia assume um papel fundamental no medievo, na qual a ideia predomina sobre a forma.
            As ideias da igreja eram sintetizadas pelos artistas da época, os quais faziam uma suma do pensamento religioso e possibilitavam a “leitura das imagens” pelo povo. Tais obras, caracterizadas por uma beleza plástica, uniam a aparência externa do indivíduo ao dinamismo humano – as imagens surpreendiam o ser em atitudes humanas, naturais e intensas. As imagens eram tomadas pela paixão, pela dor, engrandecidos pelo êxtase, inquietos pela alegria, deformados pela cólera, torturados pela angústia e etc.
             A arte em foco desdobra-se em dois seguimentos: românico e gótico. O primeiro foi uma arte sacra da cristandade ocidental em expansão, marcada pelo regionalismo. Porém, mesmo aproveitando-se de diversas tradições artísticas, os elementos incorporados foram adaptados as novas necessidades, o que configurou esse estilo artístico como original. Uma característica relevante da escultura românica era o simbolismo – o tamanho, bem como o aspecto de cada personagem esculpido estava associado ao papel desempenhado pelo mesmo ou a importância deste no mundo religioso. Dessa forma, compreende-se porque Cristo era revelado em tamanho maior que os apóstolos. Além disso, merece destaque outras características da arte românica: as construções eram fixas na terra, com paredes grossas e mantinham o horizontalismo. Arte tida como heterogênea, pois conservou grande diversidade regional entre países – França, Inglaterra, Espanha e Itália.
            Paulatinamente o estilo gótico foi se libertando do românico e revelando suas particularidades. As paredes das construções ficaram mais finas e se verticalizaram – as torres que apontavam para o alto, representam a autoridade maior do senhor maior proximidade do céu. É uma arte mais homogênea que a retratada acima, tendo em vista a maior diversidade da arquitetura e esculturas românicas. A arte gótica caracteriza-se ainda como uma arte urbana, pois nasceu com as cidades. A catedral tornou-se o centro da cidade, simbolizando o progresso desta, tendo em vista que as cidades tornaram-se os centros de atividade espiritual, intelectual, bem como artística. Pode-se ressaltar ainda a claridade dos recintos – existia a preocupação dos santuários serem claros, onde as vidraças imensas tinham que deixar a luz do sol passar para iluminar e axaltar as manifestações da arte religiosa.

            Diante do exposto, compreende-se que o estudo da arte medieval possibilita um conhecimento aprofundado acerca da mentalidade dessa sociedade. Além disso, a partir do descrito “derruba-se” preconceitos e “quebra-se” paradigmas concernentes ao período, tido erroneamente como de ignorância devido a interferência religiosa. 

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